*Por Adm. Ito Siqueira
Empreendedorismo,
empreendimento, empreender... são palavras que cada vez mais ocupam os espaços
nas reuniões de planejamento de muitas organizações. Não somente as que estão
focadas em lucratividade, mas para todas as instituições que sabem que
necessitam do resultado para dar prosseguimento aos seus objetivos.
Mas
afinal o que é empreendedorismo? O economista austríaco Schumpeter (1934)
associa o empreendedor ao desenvolvimento econômico, à inovação e ao
aproveitamento de oportunidades em negócios.
Segundo
Fernando Dolabela:
"É
uma livre tradução que se faz da palavra entrepreneurship.
Designa uma área de grande abrangência e trata de outros temas, além da criação
de empresas.
·
Geração
do auto-emprego (trabalhador autônomo);
·
Empreendedorismo
comunitário (como as comunidades empreendem);
·
Intra-empreendedorismo
(o empregado empreendedor)
·
Políticas
públicas (políticas governamentais para o setor).
Exemplos
do que seja um empreendedor:
·
Indivíduo
que cria uma empresa, qualquer que seja ela;
·
Pessoa
que compra uma empresa e introduz inovações, assumindo riscos, seja na forma de
administrar, vender, fabricar, distribuir, seja na forma de fazer propaganda
dos seus produtos e/ou serviços, agregando novos valores;
·
Empregado
que introduz inovações em uma organização, provocando o surgimento de valores
adicionais.
·
Contudo,
não se considera empreendedor uma pessoa
que, por exemplo, adquira uma empresa e não introduza nenhuma inovação (quer na
forma de vender, de produzir, quer na maneira de tratar os clientes), mas
somente gerencie o negócio."
Esse
último tópico citado por Dolabela é muito importante para se entender o que de
fato é empreender. Um empresário pode não ser empreendedor, na verdade muitos
não são. Muitas empresas são herdadas ou iniciadas sem qualquer tipo de
diferencial no mercado. Os analistas de créditos e gerentes de bancos afirmam
que existe muito capital que não é emprestado pelo simples fato das pessoas não
conseguirem colocar idéias inovadoras nos projetos de solicitação de
empréstimo. Muitos planos de negócios para a montagem de fábrica de velas ou de
vassoura chegam diariamente nos setores de créditos e são rejeitados. Não é que
uma nova fábrica de vela ou vassoura não possa ser montada, mas o banco precisa
perceber que existe algo inovador no projeto para acreditar que vai dar certo.
Falta empreendedorismo.
Por
outro lado muitos funcionários de empresas demonstram, que apesar de não ter
tido, ainda, a oportunidade de gerir seu próprio negócio sabem empreender onde
estão atuando.
O
empreendedorismo é algo nato ou pode ser adquirido, apreendido?
Com
certeza algumas pessoas já nascem com uma maior facilidade para ser criativo e
colocar suas idéias para funcionar. Pessoas que tem coragem de fazer de novo
caso sua idéia não venha a dar certo da primeira vez. Todavia o
empreendedorismo é algo que pode ser adquirido com a vontade da pessoa em
mudar, em querer vencer.
Muitas
pessoas acham que não podem empreender por não ter tido a oportunidade de estar
num emprego que incentive as idéias ou por não ter o próprio negócio. O
verdadeiro empreendedor cava as suas oportunidades, não importando as
adversidades.
Dá
para ser empreendedor vendendo doces, salgados, sucos e refrigerantes? Você
deve estar pensando em como poderia atuar na área de marketing da coca-cola e
colocar todo o seu "espírito empreendedor" para fazer as vendas
deslancharem. E se a situação fosse com um vendedor ambulante desses mesmos
produtos? Dá para ser empreendedor vivendo como um vendedor nas ruas? A
resposta está em uma matéria de Cleidiana Ramos, publicada pelo Jornal A Tarde
em junho próximo passado. A "Bomboniére de Roberto Baleiro" nome
oficial do atual ponto que era a antiga guarita do campus da Ufba pertence a
Robertinho, um ex-ambulante que descobriu que poderia prestar um serviço aos
seus clientes: anunciar o roteiro dos ônibus que passam em frente e divulgar
informações interessantes como a metereologia e resultados esportivos.
Robertinho já foi escolhido oito vezes como amigo da turma de Administração,
Pedagogia e Ciências Médicas, demonstrando o quanto seus clientes de fato
gostam do seu serviço e que ele faz muito mais do que vender seus produtos, ele
se torna um amigo das pessoas que ele tem contato. No começo ele ficava embaixo
da mangueira e gritava na garganta. Atendendo ao seu estilo inovador colocou
uma caixa de som perto do ponto de ônibus e agora usa um microfone no estilo
"Madonna" - aquele que tem um apoio em forma de passadeira de cabelo.
Para demonstrar que a criatividade do empreendedor precisa de competência para
funcionar e cativar clientes, Robertinho sai de onde mora, perto da Avenida
Garibaldi, para descobrir novos itinerários dos ônibus e assim tornar suas
informações mais precisas. Robertinho é um exemplo de que o empreendedorismo
não está ligado a condição econômica da pessoa e sim na força de vontade de
cada um.
O
empreendedorismo está diretamente relacionado com a criatividade, o empresário
brasileiro que consegue resultado em sua gestão tem que, dia-a-dia, implementar
novas maneiras de gerir para conseguir driblar as dificuldades encontradas no
mercado interno e externo. Um administrador tem que entender a necessidade de
ser empreendedor em sua gestão nas organizações para conseguir os resultados
esperados.
*Adm. Ito Siqueira é professor
universitário, mestre em Administração e consultor de Varejo.
DOLABELA,
Fernando. O segredo de Luíza. São Paulo: Cultura, 1999.
RAMOS,
Cleidiana. Robertinho supera a crise sendo criativo: na informalidade,ambulante
vira sensação (e ajuda muito) no campus da Ufba. Salvador : Jornal A Tarde, 09/06/2003.
SHUMPETER, J. A. The Theory of economic development. Harvard University Press. 1934