segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Se você que ser um bom Administrador precisa aprender primeiro a ser um empreendedor



*Por Adm. Ito Siqueira

Empreendedorismo, empreendimento, empreender... são palavras que cada vez mais ocupam os espaços nas reuniões de planejamento de muitas organizações. Não somente as que estão focadas em lucratividade, mas para todas as instituições que sabem que necessitam do resultado para dar prosseguimento aos seus objetivos.

Mas afinal o que é empreendedorismo? O economista austríaco Schumpeter (1934) associa o empreendedor ao desenvolvimento econômico, à inovação e ao aproveitamento de oportunidades em negócios.

Segundo Fernando Dolabela:
"É uma livre tradução que se faz da palavra entrepreneurship. Designa uma área de grande abrangência e trata de outros temas, além da criação de empresas.
·        Geração do auto-emprego (trabalhador autônomo);
·        Empreendedorismo comunitário (como as comunidades empreendem);
·        Intra-empreendedorismo (o empregado empreendedor)
·        Políticas públicas (políticas governamentais para o setor).

Exemplos do que seja um empreendedor:
·        Indivíduo que cria uma empresa, qualquer que seja ela;
·        Pessoa que compra uma empresa e introduz inovações, assumindo riscos, seja na forma de administrar, vender, fabricar, distribuir, seja na forma de fazer propaganda dos seus produtos e/ou serviços, agregando novos valores;
·        Empregado que introduz inovações em uma organização, provocando o surgimento de valores adicionais.
·        Contudo, não se considera empreendedor uma  pessoa que, por exemplo, adquira uma empresa e não introduza nenhuma inovação (quer na forma de vender, de produzir, quer na maneira de tratar os clientes), mas somente gerencie o negócio."

Esse último tópico citado por Dolabela é muito importante para se entender o que de fato é empreender. Um empresário pode não ser empreendedor, na verdade muitos não são. Muitas empresas são herdadas ou iniciadas sem qualquer tipo de diferencial no mercado. Os analistas de créditos e gerentes de bancos afirmam que existe muito capital que não é emprestado pelo simples fato das pessoas não conseguirem colocar idéias inovadoras nos projetos de solicitação de empréstimo. Muitos planos de negócios para a montagem de fábrica de velas ou de vassoura chegam diariamente nos setores de créditos e são rejeitados. Não é que uma nova fábrica de vela ou vassoura não possa ser montada, mas o banco precisa perceber que existe algo inovador no projeto para acreditar que vai dar certo. Falta empreendedorismo.

Por outro lado muitos funcionários de empresas demonstram, que apesar de não ter tido, ainda, a oportunidade de gerir seu próprio negócio sabem empreender onde estão atuando.

O empreendedorismo é algo nato ou pode ser adquirido, apreendido?

Com certeza algumas pessoas já nascem com uma maior facilidade para ser criativo e colocar suas idéias para funcionar. Pessoas que tem coragem de fazer de novo caso sua idéia não venha a dar certo da primeira vez. Todavia o empreendedorismo é algo que pode ser adquirido com a vontade da pessoa em mudar, em querer vencer.

Muitas pessoas acham que não podem empreender por não ter tido a oportunidade de estar num emprego que incentive as idéias ou por não ter o próprio negócio. O verdadeiro empreendedor cava as suas oportunidades, não importando as adversidades.

Dá para ser empreendedor vendendo doces, salgados, sucos e refrigerantes? Você deve estar pensando em como poderia atuar na área de marketing da coca-cola e colocar todo o seu "espírito empreendedor" para fazer as vendas deslancharem. E se a situação fosse com um vendedor ambulante desses mesmos produtos? Dá para ser empreendedor vivendo como um vendedor nas ruas? A resposta está em uma matéria de Cleidiana Ramos, publicada pelo Jornal A Tarde em junho próximo passado. A "Bomboniére de Roberto Baleiro" nome oficial do atual ponto que era a antiga guarita do campus da Ufba pertence a Robertinho, um ex-ambulante que descobriu que poderia prestar um serviço aos seus clientes: anunciar o roteiro dos ônibus que passam em frente e divulgar informações interessantes como a metereologia e resultados esportivos. Robertinho já foi escolhido oito vezes como amigo da turma de Administração, Pedagogia e Ciências Médicas, demonstrando o quanto seus clientes de fato gostam do seu serviço e que ele faz muito mais do que vender seus produtos, ele se torna um amigo das pessoas que ele tem contato. No começo ele ficava embaixo da mangueira e gritava na garganta. Atendendo ao seu estilo inovador colocou uma caixa de som perto do ponto de ônibus e agora usa um microfone no estilo "Madonna" - aquele que tem um apoio em forma de passadeira de cabelo. Para demonstrar que a criatividade do empreendedor precisa de competência para funcionar e cativar clientes, Robertinho sai de onde mora, perto da Avenida Garibaldi, para descobrir novos itinerários dos ônibus e assim tornar suas informações mais precisas. Robertinho é um exemplo de que o empreendedorismo não está ligado a condição econômica da pessoa e sim na força de vontade de cada um.

O empreendedorismo está diretamente relacionado com a criatividade, o empresário brasileiro que consegue resultado em sua gestão tem que, dia-a-dia, implementar novas maneiras de gerir para conseguir driblar as dificuldades encontradas no mercado interno e externo. Um administrador tem que entender a necessidade de ser empreendedor em sua gestão nas organizações para conseguir os resultados esperados.

*Adm. Ito Siqueira é professor universitário, mestre em Administração e consultor de Varejo.


DOLABELA, Fernando. O segredo de Luíza. São Paulo: Cultura, 1999.
RAMOS, Cleidiana. Robertinho supera a crise sendo criativo: na informalidade,ambulante vira sensação (e ajuda muito) no campus da Ufba. Salvador: Jornal A Tarde, 09/06/2003.
SHUMPETER, J. A. The Theory of economic development. Harvard University Press. 1934